Escritas
Érica Alves
22 anos
Então... ser um corpo feminino em meio a sociedade pra mim é uma representatividade de luta. Falo isso pois vivemos em um mundo em que o corpo feminino é colocado de modo objetificado e submisso, vemos constantemente vários casos de feminicídio onde os nossos corpos são invadidos e não temos o alívio de estarmos 100% segura em nenhum ambiente que nos colocarmos. Devido a isso a tantos outros quesitos os quais invadem o nosso corpo de modo direto e indireto ser um corpo feminino significa luta, força e resistência são essas três palavras que pra mim definem o corpo feminino em todo um contexto tanto histórico quanto social.
Lara Nogaard
26 anos
Para mim, ter um corpo feminino significa ter e transpirar prazer e amor.
Magdalena Sebald
36 anos
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Let me describe that i “inhabit a female body” rather than me “being a female body”.
The body is a vessel and a sanctuary carrying lots of energies, spirit, soul. Female bodies are specifically gifted with the ability to receive and give on life. The female body is the place where the biological life of a human being begins, all our bodies are being created and grow, first home to all of us human beings until our own homes which are our bodies are strong enough. Like microcosms containing whole universes constantly creating possibilities to give new forms to life through intimate connection with the opposite male principle.
For this power, female bodies are being worshipped as divinities since long time. But over the last centuries and millennia, power is being taken away from women, systematically through demonizing them, their bodies and abilities through oppression and establishing a patriarchal regime. This has created a shift in the global perception of the female body. After millennia of having been worshiped and celebrated for the power of creation present in our bodies, now women are being burdened, connoted as being weak, impure, vulnerable and in need of protection.
In this context it is very important to mention that for the underprivileged women, these burdens are much severe than for the privileged ones. Although we women share burdens, it is the black female body, the original body, first human being we all descend from, stigmatized to be the one most blamed on since some centuries now.
In terms of natural female body, to me, in the context of feminism, I am oftentimes outnumbered as most, also the female identifying ones would wear masculine and androgynous styles. This seems like a paradox but really marks an approximation and the dissolution of strict boundaries between the extremes of binarism.
Nátali Yamas
25 anos
Oi, aqui quem fala é Nátali Yamas, fui convidada a responder uma pergunta muito complexa e ao mesmo tempo muito intrigante, por toda a sua complexidade que é: o que é um corpo feminino, o que é ser, o que é ter um corpo feminino. E, é importante se localizar, né? É importante localizar de onde eu falo, pra compreender esse meu corpo feminino.
Eu sou uma mulher preta, eu sou uma mulher de religião de matriz africana, eu sou uma mulher mulherista africana, então eu compreendo a noção de gênero para além da concepção feminista ocidental. É a partir desses locais que eu falo sobre esse corpo feminino, a partir do corpo que habito, a partir do que isso significa dentro da perspectiva de pensamento que eu me constituo.
Para além de uma questão biológica do corpo físico, a gente entende que o universo possui a energia do masculino e do feminino em tudo, absolutamente tudo. Então, o corpo físico é apenas uma parte desse todo, porém, dentro dessa sociedade ocidental que a gente vive, o nosso corpo é demarcado e estigmatizado dentro daquilo que é considerado padrão, dentro daquilo que é considerado correto ou destoante aos olhos dessa sociedade ocidental.
Ter o corpo feminino nessa sociedade é crescer sendo induzida a acreditar que o nosso corpo é um local de violência, é um local de passividade, é um local de silêncio, é um local de pudor, de tabus, de crenças, normas e regras que não necessariamente diz respeito a nós, ao nosso bem estar, mas aquilo que geralmente um homem branco definiu.
Mas partindo daquilo que realmente sou e não daquilo que foi feito de mim, eu entendo esse corpo como um templo, como um verdadeiro templo que abriga todos os meus corpos. Meu corpo físico, meu corpo espiritual, emocional, psíquico e todos os outros que couber, que coexistem simultaneamente; nessa casa, corpo, templo que assim eu vejo, que assim eu enxergo, que assim eu tento me conduzir dentro dessa caminhada.
Esse templo, ele carrega muitas potencialidades e ao mesmo tempo muitas vulnerabilidades também diante desse cenário que eu tracei, diante do que a sociedade ocidental imputa sobre os nossos corpos. Mas é um templo de poder, de muita potência, o ventre feminino ele é a pulsão, é uma força motriz de tudo que se cria. É uma força criadora, é criatividade constante, é realização, é poder de materialização. O corpo feminino ele tem esse poder dado por Olodumarê, que é o de gerar vidas, de transformar vida, e não que isso defina esse feminino, mas só a natureza feminina na natureza detém esse poder. Então, isso é algo que dentro da concepção africana é muito louvado, é muito respeitado e muito me honra por carregar, eu amo muito a minha linhagem feminina, matriarcal.
O meu corpo, ele é uma continuação de outros corpos, de uma história que perpassa esses corpos que vem desde antes de mim, que vem da minha mãe, que vem da minha vó, da minha bisavó, de toda a minha linhagem feminina. Da minha matrilinearidade, todos esses úteros, todos esses ventres. Eu sou uma continuidade disso, e trago no meu ventre também as sementres para perpetuar essa continuidade, então é assim que eu enxergo o corpo: o corpo templo, casa de muitas potencialidades, de um poder de criação, de uma força que tá pr'além do físico. De uma visão que tá pr'além do que os olhos limitados da sociedade branca ocidental pode enxergar, é mais ou menos essa noção que eu tenho, olhando a partir do meu próprio corpo.
Nataly Rocha
22 anos
Ser mulher, é ter liberdade, pelo menos hoje, ser mulher é sentir-se amada por si mesma, encarar um engravatado e dizer o que pensa sem medo de represálias, ser mulher é, ter seu espaço, sua voz, ser resiliente e principalmente se colocar no lugar de outra mulher.